segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Sentimentos Literários - A Morte de Ivan Ilitch (Leon Tolstoi)

"A história da vida de Ivan Ilitch foi das mais simples, das mais comuns e portanto das mais terríveis."


Ano: 2015 / Páginas: 101
Idioma: português 
Editora: L&PM

"Não existirei mais e então o que virá? Não haverá nada. Onde estarei quando não existir mais? Será isso morrer? Não. Eu não vou aceitar isso!”"


Publicada pela primeira vez em 1886, a fascinante novela de Tolstói, considerada a melhor da literatura mundial, nos desperta para certos debates internos que nos colocam para analisar o sentido de nossa existência.

Narrada em terceira pessoa, mas sem nos poupar de entrarmos na cabeça da personagem de Ivan Ilitch e acompanharmos meus pensamentos e seus temores quando encontra-se de cara com a morte, a história começa já no enterro de Ivan e nos apresenta seus últimos meses de vida, enquanto a iminência de sua morte aponta para uma revelação cruel!

Ivan Ilitch era um homem comum. Estudou porque tinha que estudar, casou-se porque estava na hora de casar, trabalhou porque tinha que trabalhar, criou os filhos porque precisava criar. Nada em sua vida foi feito com verdadeira paixão. A ordem e a rotina eram o mais importante para ele e isso tudo parecia ser o correto. A decência e a moral eram seus únicos objetivos de vida e seu refúgio sempre foi o trabalho. Sua única preocupação era conseguir ser o melhor profissional possível e conquistar cada vez mais promoções para que seu salário aumentasse. 

E então, quando uma doença se instala, a realidade começa a ser revelada. Diante do fato de que vai morrer, Ivan Ilitch sente-se traído! Seu sofrimento é contestado e ele não consegue entender qual o sentido de sua morte. Até que ele passa a se questionar qual foi o sentido de sua vida.

A facilidade que Tolstói descreve os pensamentos e as situações, onde o doente sente-se como um peso para a sua família e o envenenamento de sua alma é bem detalhado pelos seus pensamentos frustrados, causam-nos arrepios!

O pensamento humano diante da morte nos conduz para uma profunda introspecção! Enquanto Ivan desmascara as mentiras que permeavam sua existência, o medo da morte vai aumentando, porque ele não se julga pronto para isso já que percebe que não viveu da forma que deveria. 
Assim, é impossível não levantarmos certos questionamentos pessoais!

Muitas vezes não podemos nos livrar da burocracia de se viver em sociedade, mas a vida exige de nós um sentido íntimo para a nossa existência! A busca por nós mesmo deve ser diária e intensa, porque a morte não está em um ser abstrato! Não está naquele que está sentado no banco do ônibus cochilando entre uma parada e outra. É o destino de todos nós, inclusive o seu. Inclusive o meu!


"Caio é um homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal”, parecera-lhe a vida toda muito lógico e natural se aplicado a Caio, mas certamente não quando aplicado a ele próprio. Que Caio, ser abstrato, fosse mortal estava absolutamente correto, mas ele não era Caio, nem um ser abstrato. Não: havia sido a vida toda um ser único, especial. Fora o pequeno Vanya, com mamãe e papai e Mita e Volodya, com brinquedos e um tutor e uma babá; e mais tarde com Kátia e todas as alegrias e prazeres da infância, da adolescência e da juventude. O que sabia Caio do cheiro da bola de couro de que Vanya tanto gostava? Por acaso era Caio quem beijava a mão de sua mãe e escutava o suave barulho da seda de suas saias? Foi por acaso Caio quem se envolveu em protestos quando estudante de Direito? Foi Caio quem se apaixonou? Quem presidiu sessões como ele?
E Caio certamente era mortal e era mais do que justo que morresse, mas ele, o pequeno Vanya, Ivan Ilitch, com todos os seus pensamentos e emoções, é completamente diferente. Não pode ser verdade, isto seria terrível demais.
...
“Se eu tinha que morrer, assim como Caio, deveriam ter-me avisado antes. Uma voz dentro de mim desde o início deveria ter-me dito que seria assim. Mas não havia nada em mim que indicasse isso; eu e todos os meus amigos sabíamos que no nosso caso seria diferente. E eis que agora... Não... não pode ser e no entanto é assim! Como entender isso?”"



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