“Mas essa coisa de classe média parecia as quesadillas normais, algo que só podia existir em um país normal, em um país onde não estivessem permanentemente tratando de foder a sua vida. Todas as coisas normais eram difíceis pra caralho de conseguir. No colégio, tinham se especializado em organizar genocídios de extravagantes para nos transformar em pessoas normais, era o que nos exigiam os professores e os padres, por que diabos não podíamos nos comportar como gente normal? O problema é que se os tivéssemos levado à sério, se tivéssemos seguido ao pé da letra as interpretações de seus ensinamentos, teríamos feito o contrário, só merdas bem loucas mesmo.” (p.32)
Ano: 2013 / Páginas: 153
Idioma: Português
Editora: Companhia das Letras
"Só faltou meu pai acrescentar: ele não tem experiência em viver em jaulas. Mas em compensação eu tinha experiência em viver em caixa de sapatos." (p.103)
Juan Pablo Villa Lobos usa o sarcasmo e o humor ácido para falar sobre a luta de classes nesse mundo capitalista. Através das histórias da vida da família de Orestes, ou Oreo, o autor nos mostra os desafios vividos pelos países em desenvolvimento.
Nossas lutas começam contra a corrupção e a política desonesta, passa pelo crescimento industrial desenfreado e continua através do cotidiano daqueles que deveriam se alimentar de esperanças por dias melhores.
Através de muito pessimismo e quesadillas, Oreste narra como é sua vida em uma família cheia de crianças com nomes de filósofos gregos, um pai educador, uma mãe melodramática, e o dia a dia na “caixa de sapatos” (como ele chama sua casa).
“A confusão é em essência preguiçosa e oportunista, não se esforça para se manifestar em ambientes controlados, ela pede cenários propícios e nunca desperdiça uma turba.” (p. 64)
A expectativa de que seres de outros planetas os salve da pobreza, a dúvida quanto a sua verdadeira posição social (será que pobre ou classe média?), vacas lésbicas, melancias psicodélicas, periferia do Lago do Moreno no morro da Puta que Pariu, México... esse é o cenário descrito pelo autor! Poderia ser cômico se não fosse tão trágico! Com uma linguagem muitas vezes rebuscadas sendo mesclada com palavrões, “Se vivêssemos em um lugar normal” começa quando nosso protagonista, que é também nosso narrador, descreve seu cotidiano e a chuva de insultos que seu pai faz aos políticos da televisão. Por causa da amargura que Orestes descreve suas desventuras, somos impedidos de chegarmos às lágrimas e parece que isso era exatamente o que o autor pretendia.
Este é o segundo livro da trilogia que autor dedica ao México.
Um livro que fala muito mais do que aparenta estar falando. Onde nada é coincidência! Seja a descrição de um rio que coleta dejetos da Nestlé, ou do nosso protagonista ter o apelido de Oreo... Trata-se de uma crítica brutal à sociedade, economia mundial, corrupção e às diferenças de classes.
“Nos Estados Unidos não havia lixo, tudo reluzia, igualzinho na televisão. As pessoas não eram porcas, não jogavam lixo na rua, todos depositavam no lugar certo, em lixeiras de cores diferentes, que serviam para classificar os dejetos. A lixeira das cascas de banana. A lixeira das latas de refrigerante vermelhas. A lixeira dos ossos de frango do Kentucky Fried Chicken. A lixeira do papel higiênico sujo de merda. Umas lixeiras gigantes das coisas velhas e fora de moda que haviam se transformado em uma vergonha para seus ex-proprietários. Era tão impressionante que inclusive você, que só estava de férias, também não jogava lixo na rua.” (p.51)
Nenhum comentário:
Postar um comentário