terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Sentimentos Literários - Sentimentalmente Burro (Alexandre de Jesus)

“Então, por mais que estejamos casados, nosso corpo, nossa alma, nossas vidas jamais estarão casados: o verdadeiro amor é o que descasa e nos despe da vaidade de “possuir”, cura-nos dessa doença aflitiva de “poder alcançar a felicidade”, pelo simples fato de não se preocupar com a felicidade. Quem tem amor no coração jamais se preocupa em encontrar a felicidade. Quem se preocupa são os nossos sonhos: vaidosos, arrogantes, egoístas e até destrutivos. Um sonhador jamais questiona a legitimidade de seus sonhos. Esta é a razão por que muitos perpetram barbaridades aos outros e a si mesmos em nome dessa coisa linda que se chama “sonho”. E é linda mesmo! Por isso, quando alguém lhe disser: “Meu amor vai fazê-la feliz...” Desconfie, fique alerta e pode ter certeza de que não é amor verdadeiro. Quem faz outra pessoa feliz somos nós, não nossos sentimentos. Nossos sentimentos são nossos, só nossos, e não podem ser emprestados nem divididos. É exatamente aí que o nasce o AMOR."




Estava assistindo a um vídeo do Canal Literature-se com a Mell Ferraz, quando me senti completamente tentada a conhecer a obra de Alexandre de Jesus. Pareceu-me algo muito diferente e de fato, foi o que encontrei em seu livro. 
Através de relatos curtos, sob o ponto de vista de diversas pessoas de diferentes idades, Sentimentalmente Burro reúne cartas que falam sobre o amor. Todos os relatos são fictícios, porém, nos sentimos como se estivéssemos mergulhando nas intimidades dos apaixonados. O autor recolheu materiais por cerca de 2 anos para compor a obra e conseguiu nos convencer quanto aos diferentes efeitos causados pelo amor. 
As narrativas são compostas desde crianças que se descobrem apaixonadas, ou pelo tormento de um homem agressor, até por mulheres que se submetem a abuso acusando o amor de ser o responsável por sua impotência. Diante de desabafos dolorosos, percebemos que todos somos meros bonecos vivos dominados por esse sentimento considerado tão nobre!
São 28 crônicas inquietantes e profundas mesmo quando curtas e aparentemente superficiais. Quando não nos sensibilizamos com algumas narrativas febris, nos identificamos com o que aparentemente se apresenta como bobo, mas que todos nós, um dia, já vivemos ou viveremos. Afinal, ninguém está imune de ser pego cometendo as maiores imbecilidades e culpando o amor por isso. Temos a tendência de culparmos o amor pelos nossos sofrimentos e negamos o fato de que nós somos incapazes de sabermos lidar com ele, somos todos Sentimentalmente Burros e passamos a vida inteira tentando aprender a maneira certa de amar, torcendo para que os outros aprendam a maneira certa de nos fazer sentir amados. 

“A explicação é bem simples e curta: todo ser humano é sentimentalmente burro. Só o amor é inteligente. Mas é aí que a coisa se complica, pois diante do nosso orgulho jamais admitiremos essa verdade. Resta-me somente uma conclusão: “Só é feliz quem não necessita da felicidade para ser feliz.”


"O amor não está no outro, não está em mim, não está em lugar algum, até porque o verbo “estar” não possui estrutura para sustentá-lo. Mas ele sim, o amor, nos suporta, e suporta para todo o sempre o enigma e a magia do “saber sem saber”. Eis a razão de manter minha mente sempre aberta, meu corpo sempre pronto, meu coração sempre à espera.”




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