segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Dogville (Lars Von Trier)


"Por que um homem que ama a luz, usa essas cortinas pesadas?"


Lançado em Janeiro de 2014, dirigido por Lars Von Trier e estrelado por Nicole Kidman, trata-se de um filme que usa o teatro filmado como cenário. O chão é negro e os ambientes são demarcados com giz. Os atores fingem abrir portas e o fundo é infinito, sendo usado o recurso de luzes para fazerem os efeitos esperados em cada cena. O direto usa ainda alguns recursos do movimento cinematográfico Dogma 95, lançado em 1995 na Dinamarca pelo próprio diretor em coautoria com Thomas Vinterberg. Um dos recursos, foi o jogo de câmera que foi controlado pelo próprio Lars. O resultado de toda essa ousadia, foi de um filme que valoriza o trabalho dos atores, destacando assim, suas emoções e nos mostrando que a grandiosidade de uma obra pode estar na simplicidade que armazena inúmeros nutrientes para nossa mente, ultrapassando os prazeres imediatos causados pelos apelos visuais. 













O filme possui 2h e 57min de duração e é dividido em 9 parte e um prólogo. Estamos sempre na companhia de um narrador que descreve cada núcleo e nos apresenta cada personagem. Trata-se uma cidade fracassada dos Estados Unidos nos anos 30, onde a miséria impera transformando seus moradores em derrotados. Não vemos as montanhas que os personagens veem, não vemos estradas nem paisagens, assim, percebemos que os limites dos moradores são os limites da caixinha de fósforo que é Dogville. 
É muito fácil se ver em Dogville quando se mora em uma cidade do interior. O universo dos moradores é limitado e marcado por fofocas e preconceitos sustentados pelas éticas que a sociedade define sem encarar as necessidades individuais dos seres humanos. 
Tom é um escritor/filósofo que acredita ter a função de motivar seus habitantes a evoluírem moralmente. Suas éticas são transformadoras e demonstram ser eficazes na teoria que ele desenvolveu de acordo com o que viu em seu universo particular. 
Grace aparece na cidade tentando se esconder, porque afirma estar sendo perseguida por gangsteres e essa mulher pode ser a oportunidade que Tom precisava para mostrar aos moradores que a miséria não esvaziou seus corações e que eles são altruístas o suficiente para darem à Grace a chance de ficar entre eles. 
A mulher tem 2 semanas para conquistar os moradores da cidade e sua primeira tentativa é de se mostrar útil. Logo ela se oferece para ajudar a cada um deles, que inicialmente não veem nenhum trabalho que Grace possa fazer. Então, ela começa a ajuda-los em afazeres que não são essenciais. 
Com o tempo, depois de ser aceita entre os moradores que a veem como uma luz para Dogville, Grace já é até paga pelos seus serviços que agora passam a ser indispensáveis! Mas com o tempo, os moradores vão exigindo cada vez mais dela e aos poucos ela vai se tornando uma escrava. 
Ninguém é mais amigável. Grace é estuprada por quase todos homens de Dogville que passam a ameaça-la. Tom está apaixonado e é o único que ainda não teve relações sexuais com ela e fica desesperado tentando ajuda-la. 
Nada do que está acontecendo é dito, a sociedade prefere fingir que não vê para manter sua moral sustentada. O poder sobe à cabeça daqueles que não tinham nada, mas agora tem a quem diminuir. Até as crianças rendem-se aos seus instintos de crueldade. 














O filme deixa à mostra todas as nossas fragilidades! Entendemos que realmente se quisermos testar nossas éticas e nossa integridade, devemos fazê-lo quando tivermos o poder em nossas mãos.
Com um final revelador e fascinante, a última parte diz tudo o que o filme inteiro quis nos mostrar, mas nada daquilo faria tanto sentido se não estivéssemos acompanhando a decadência daqueles moradores e de sua humanidade. 
Ou teria sido apenas as garras dessa humanidade que foram postas à mostra? 





Fontes:
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-28927/#
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dogma_95
http://www.laprev.ufscar.br/sinopse-filmes/dogville

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