Depois de enfrentar a Maratona de Carnaval do Clube Literário Palavras ao Vento, venho dividir com vocês o prazer que tive com a escolha do meu último conto do desafio.
Entrar nessa maratona me animou e vou continuar tentando cumprir o desafio de ler um conto por dia, assim, vou selecionar o melhor da semana e trazer para o blog.
"Depois do Baile" foi escrito quando o autor estava com seus 75 anos de idade, mas só foi publicado após a sua morte, em 1911.
Jamais me deparei com um conto tão bonito, profundo e significativo!
Através de uma narrativa com tom de revolta e desabafo, Tolstói nos denuncia sem piedade e coloca em evidência nossa covardia.
Nosso narrador Ivan Vassílievich tenta justificar o fato de que para que as pessoas sejam boas, elas precisam de condições para isso e começa a nos contar sobre a manhã que ele acredita ter mudado toda a sua vida.
"— Então os senhores dizem que o homem não pode entender por si próprio o que é bom e o que é ruim, que toda a questão está no meio, que somos vítimas do meio. Mas eu acho que toda a questão está no acaso. Vou falar sobre mim mesmo"
Ivan, um jovem rico e bonito, conta que se apaixonou profundamente por Várienka B durante um baile.
A descrição da jovem e do sentimentos que o arrebatou são tão detalhados, sensíveis e profundos, que logo entendemos o porquê do conto ser tão apreciado pelos amantes da literatura.
Envolvido pela atmosfera de paixão, Ivan não consegue dormir e decide dar uma volta na manhã após ao baile. Seus sentimentos são os mais puros e a felicidade explode a sua volta fazendo com que ele veja o mundo como um lugar encantador!
"Assim como uma gota, ao verter de uma garrafa, faz seu conteúdo transbordar, também em minha alma o amor por Várienka liberou toda a capacidade de amor escondida em mim. Naquele momento eu estava abraçando o mundo inteiro com o meu amor. "
Porém, ele se depara com a cena mais chocante de toda a sua vida! E isso faz com que todo aquele amor vá diminuindo a tal ponto que deixa de existir.
Quando o narrador nos apresenta tais fatos, é impossível não pensarmos em quantas vezes vivemos algo parecido.
O autor não nos poupa e nem poupa a si mesmo! Denuncia nossa tendência negligente, mostrando que mesmo vivenciando um episódio de injustiça, violência e crueldade, não nos revoltamos e simplesmente nos envergonhamos e nos rendemos à covardia, preferindo virar o rosto para não vermos tais situações.
Este conto é uma crítica à sociedade, ao poder das classes privilegiadas e à alienação do ser humano e sua negligência da responsabilidade de um ser social.
Conhecer um conto desses, escrito em 1903, nos mostra que mesmo com todos os avanços que fizemos, ainda sofremos das mesmas doenças da alma.
As ferramentas necessárias para conter e administrar a civilização não devem ser contestadas!
É o que sempre ouvimos dizer por aí.
Mas por que será que nos sentimos tão envergonhados e violados quando nos deparamos com tais ferramentas?
O mundo continua sendo o mesmo, repleto de beleza para quem consegue vê-la.
Ele só deixa de ser confiável quando nós conhecemos o lado sombrio da humanidade.
"Então, os senhores acham que naquele momento concluí que o que tinha visto era algo ruim? De modo algum. “Se aquilo tinha sido feito com tanta convicção e se todos consideravam necessário, então quer dizer que sabiam algo que eu não sabia” — pensava, e tentava descobrir o que era. Mas, por mais que tentasse, não conseguia descobrir o que era, nem depois. E, sem descobrir, não podia ingressar no serviço militar, como antes desejava, e não apenas não servi no exército, mas nunca servi, em lugar algum, e, como os senhores podem ver, não servi para nada."
Nenhum comentário:
Postar um comentário