terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Os Melhores de 2015 (Filmes)

O Poderoso Chefão I, II, e III

Dividido em 3 partes, esse clássico é sim tudo o que dizem! Um dos melhores filmes da história, O Poderoso Chefão nos emociona a todo tempo, não apenas pelo enredo e pelas nuances que mesclam delicadeza e violência, mas pela trilha sonora envolvente, uma fotografia impecável, cenas inesquecíveis e interpretações memoráveis.
No dia 15 de março de 1972, o filme é lançado e logo vira um verdadeiro sucesso! O que pouca gente sabia era de todo o trabalho que estava por trás da obra.
Francis Coppola tinha seus 33 anos e não era nada famoso. Com um orçamento inicial de 2,5 milhões de dólares, o diretor começou a devorar o livro de Mario Puzo para adaptá-lo para o cinema. Originalmente, na obra literária de Puzo, a obra se passa em 1940 e 1950, porém os produtores do filme queriam deixá-lo mais barato e sugeriam que a adaptação ganhasse uma outra passagem de tempo que seria 1970, mas Coppola percebeu o tamanho do sucesso que o livro estava tendo e conseguiu convencer a Paramount de fazer o filme nas décadas originais.
Algumas outras batalhas foram travadas pelo diretor, começando pela sua escolha por Marlon Brando para interpretar Don Corleone. O ator não estava em sua melhor fase e era considerado problemático. Vencida essa etapa surge um rosto que Coppola decide brigar com unhas e dentes para que seja o filho de Vito Corleone, Michael deveria ser interpretado pelo ator desconhecido que até então trabalhava apenas no teatro, Al Pacino.
Diversos testes foram feitos com outros atores para o papel de Michael, entre eles os atores Robert de Niro e James Caan e acabaram interpretando respectivamente, Don Corleone na juventude no filme III e Sonny Corleone (irmão de Michael) no filme I.
Finalmente Francis Coppola consegue a aprovação dos produtores para que Al Pacino seja Michael, porém, ainda precisava reajustar sua equipe e depois que o fez, conseguiu rodar cenas tão boas que o orçamento já havia chegado a 6,5 milhões de dólares.




Laranja Mecânica
Dirigido, produzido e escrito por Stanley Kubrick, a adaptação do livro homônimo de Anthony Burgees, foi lançada em 1971 e estrelada por Malcolm McDowell no papel de Alex.
Essa ficção científica com o título original "A Clockwork Orange", possui 2 horas e 16 minutos de duração.
Apesar de ter levado o Oscar em 1972 (Melhor Filme / Melhor Diretor / Melhor Roteiro Adaptado / Melhor Edição), Laranja Mecânica foi tirado de cartaz do Reino Unido a mando do diretor que se revoltou com as críticas que alegavam se tratar de um filme violento demais.
Devo dizer que trata-se de um dos meus filmes preferidos, não apenas por ser uma adaptação de um dos meus livros preferidos, mas porque é realmente fabuloso!
A história é uma sátira social com uma pegada altamente psicológica que nos faz refletir sobre várias questões da nossa sociedade!
Alex é um adolescente que se interessa basicamente por música clássica, roubos, ultraviolência e abuso sexual.
Apesar do enredo extremamente pesado, o filme foi muito bem apresentado, trazendo uma sensação teatral que minimiza nossa aversão às cenas.
Depois de ser preso, Alex passa por um tratamento disponibilizado pelo governo chamado "Tratamento Ludovico", que consiste em eliminar suas atitudes violentas através do condicionamento. A partir disso, Alex passa a ser uma peça de disputa entre partidos políticos e por isso tudo, considero um filme tão reflexivo.





Boa Sorte
Boa Sorte é um filme baseado no conto de Jorge Furtado "Frontal com Fanta" que está no livro "Tarja Preta".
Lançado em 2014, o drama é estrelado pela atriz Débora Secco que arrasa no papel de Judite.
Dirigido por Carolina Jabor, Boa Sorte possui 1 hora e meia de duração.
João é um adolescente que vive em uma família aparentemente saudável, porém totalmente desestruturada! O vazio que cada membro dela possui, vai contaminando os outros, até que João decide experimentar um comprimido tarja preta de sua mãe. Depois disso, o adolescente passa a usar o remédio com frequência causando diversos incidentes que fazem com que seus pais o interne em uma clínica de reabilitação.
Assim, ele conhece Judite na clínica e vive uma história de amor inimaginável com a mulher que é HIV positivo e portadora com uma doença no fígado causada por excesso de drogas, dessa forma, ela não pode fazer uso do coquetel de controle do HIV.
O filme é absolutamente doce, leve e poético!
Sua delicadeza é apaixonante e nos faz ficar alguns dias com aquelas cenas pairando em nossas lembranças.



Melancolia
Que filme Incrível!
O diretor Lars Von Trier traz uma profunda reflexão sobre a vida com esse filme com título original de "Melancholia".
Com duração de 2 horas e 10 minutos, lançado em agosto de 2011 e estrelado por Kirsten Dunst, só consigo me perguntar onde eu estava que não assisti a esse filme antes?
Fazendo referência a Nona Sinfonia de Beethoven, Melancolia trata-se de um filme-catástrofe!
Dividido em duas partes que nos mostra o declínio de Justine enquanto a Terra está prestes a ser atingida por um planeta que sai de sua órbita e vem em nossa direção. A primeira parte nos mostra o grande esforço que Justine faz para se manter em sua festa de casamento, porém, ela é tentada a "sair de órbita", assim como o planeta Melancolia.
Na segunda parte, conhecemos a aflição de sua irmã Claire com o dia do desaparecimento da Terra. Percebemos que nas duas situações as sensações parecem ser as mesmas e que uma pessoa que sofre de depressão deve se sentir como alguém que vaga pelo universo e ao mesmo tempo tem as sensações de ansiedade de quem está prestes a morrer.
A cena em que Claire sente falta de ar e seu marido justifica dizendo que o planeta Melancolia causa essa sensação quando cruza a atmosfera terrestre, retrata bem isso.
Outra coisa muito interessante é que o filme também nos faz entender que as pessoas mais sensíveis estão mais dispostas a sofrerem dessas doenças.
O filme é profundamente psicológico e se você der um Google pode encontrar diversos estudos feitos através dele.
Denso, tenso, mas maravilhoso!





Whiplash
Com 1 hora e 47 minutos de duração, o filme é dirigido por Damien Chazelle, estrelado por Miles Teller e J.K. Simmons.
Lançado em outubro de 2014, rendeu o Oscar de melhor ator secundário para J.K Simmons, Melhor montagem para Tom Cross e Melhor mixagem de som para Craig Mann, Ben Wilkins e Thomas Curley.
A grandeza almejada por Andrew como baterista, é cada vez mais testada por seu professor Terence Fletche. E o que era para ser um filme sobre Jazz, amizade ou superação, como imaginamos, tem um final surpreendente e genial!
Um filme arrebatador que nos faz querer buscar pela grandeza que o mundo insiste em arrancar de nós!




Caminhos da Floresta
E quem diria que eu algum dia gostaria de um musical?
Com 2 horas e 5 minutos de duração, dirigido por Rob Marshall e com um elenco de peso que possui Meryl Streep, James Corden, Johnny Deep e Emily Blunt, entre outros atores geniais, Caminhos da Floresta é baseado no musical homônimo da Broadway de Stephen Sondheim, onde o enredo entrelaça os destinos de Chapeuzinho Vermelho, Cinderela, João e o pé de feijão, Rapunzel e um casal de padeiros que precisam romper com um feitiço de uma bruxa para conseguirem ter um filho e formarem a família que tanto desejam.
Esse musical conquistou meu coração, porque traz uma visão moderna dos contos dos irmãos Grimm de uma forma emocionante, delicada e até mesmo engraçada.



Her
Lançado em 2014, dirigido por Spike Jonze, tem 2 horas e 6 minutos de duração, Her possui no elenco Joaquin Phoenix, Scarlett Johansson, Amy Adams, entre outros.
Depois de comprar um sistema operacional novo para seu computador, Theodore, recém separado, encontra na voz envolvente de Samantha, uma oportunidade para se apaixonar novamente.
A história de amor impossível entre Theodore e uma máquina é inacreditavelmente doce!
O filme é extremamente delicado, fala sobre solidão, tecnologia e propõe uma reflexão sobre as relações do mundo moderno.
Muito elogiado pela crítica, Her venceu o Oscar de Melhor roteiro original em 2014.































Minha listinha ainda tem:
As Virgens Suicidas
O Iluminado
O Mágico de Oz
Narradores de Javé
Cisne Negro
Boyhood
Interstellar
Mas desses vou falar em outra hora!

Fontes: http://www.adorocinema.com/
http://omelete.uol.com.br/
Imagens: https://www.pinterest.com/adoravelcaos/meus-favoritos/




Espero ter inspirado vocês para as férias!
Beijos Coloridos e Feliz Ano Novo para todos nós!
Com novas metas, novos planos e felizes recomeços!
Até ano que vem!
;)




sábado, 19 de dezembro de 2015

Os melhores de 2015 (Livros)

Oi, Pessoal! Tudo certinho!? Espero que sim!
Quero dividir com vocês os melhores livros que li em 2015.
E que essa listinha sirva de inspiração para as leituras dessas férias. Vocês não vão se arrepender!!!



Top 10 - A Ilha Sob o Mar - Isabel Allende
Através de encontros, desencontros e descobertas, conhecemos a história de Teté e mergulhamos na história de povos marcados pela escravidão.
O livro retrata a sociedade e suas éticas tão absurdas, onde o amor é condenado e a maldade banalizada e tratada de forma natural.
Escravidão, abuso sexual e incestos são temas que promovem uma reflexão através de uma narrativa doce e eficaz que vagueia entre um narrador e os depoimentos de Teté.
A autora nos sequestra de tal maneira, que em vários momentos esquecemos que estamos lendo e nos sentimos viajando no tempo e assistindo dos céus essas mazelas humanas que marcaram nossa história e que lutamos contra seu legado até hoje.
Resenha Completa Aqui.

Top 09 - Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll
Alice No País das Maravilhas completou 150 anos em 2015. E o mais interessante é que Alice no país das maravilhas é um livro incrível para qualquer idade. Uma leitura leve e repleta de significados escondidos em uma narrativa doce e envolvente.

Top 08 - O Palácio de Inverno - John Boyne
As reflexões de Geórgui são um deleite para nossa sede de conhecimento!
Analisando sua vida, às vésperas de perder seu grande amor, ele nos sugere um mergulho na história da Rússia, na época do csar Nicolau II e da Revolução que derrubou o regime autocrata no país, levando Lênin, com seu Partido Bolchevique, ao poder.
A vida de Geórgui começa a ser narrada em 1981, quando ele está idoso e prestes a perder sua esposa. Suas lembranças começam em 1915, aos seus 16 anos, quando ele era apenas um adolescente pobre que vivia no povoado de Cáchin.
Resenha Completa Aqui.

Top 07 - Lolita - Vladmir Nabocov
A história é maçante e com certeza me despertou muito nojo. Fiquei a todo tempo tentando chegar até a parte que se caracterizava como uma história de amor. Mas não, Lolita trata-se de um mergulho na insanidade, uma tortura!
Resenha Completa Aqui

Top 06 - Fahrenheit 451 - Ray Bradbury
Apesar da intensidade dessa leitura, não é daquelas que acontece muita coisa! As conversas entre os personagens, são muito mais valiosas do que suas ações. Uma leitura indispensável, intensa e altamente perigosa, porque nos mostra o poder dos livros e o como eles podem ser uma chama de calor em mentes congeladas pelo senso comum.
Resenha Completa Aqui

Top 05 - Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley
Considero uma leitura indispensável para quem deseja avaliar-se e reconhecer suas fraqueza, para aqueles que acreditam que nos basta viver de presente e sermos alimentados pelo futuro. Porque em Admirável Mundo Novo, percebemos que nossa evolução precisa ter olhos para o passado e nossas éticas podem ser sutilmente manipuladas até que não saberemos mais quem realmente somos e corremos o risco de acordarmos de um delírio de SOMA em um mundo completamente novo com um tipo de civilização tóxica para nossas características tão humanas!
Resenha Completa Aqui

Top 04 - Laranja Mecânica - Anthony Burgess
A leitura nos mostra como governo, religião, cultura e drogas, tentam aprisionar nossos monstros, são ferramentas para opressão, fuga da realidade, lavagem cerebral e dominação.
Como seres humanos, possuímos uma cota de impulsos agressivos, que precisamos aprender a abrir mão deles para podermos ser inseridos na cultura. As Instituições existem como forma de controle que de nada mais servem além de dominar nosso instinto agressivo, privando-nos do direito de escolha e de análise crítica sobre nós mesmos.
Resenha Completa Aqui

Top 03 - Memórias do Subsolo - Fiédor Dostoiévski
Trata-se de uma novela. Um texto curto, bem estruturado e dividido em 2 partes. Na primeira parte, que é chamada de “O Subsolo”, mergulhamos destemidamente no universo de um homem das sombras, aquele que se recusa a aceitar toda a hipocrisia da sociedade.
Admirador da humanidade, porém que abomina seu lado sombrio, o narrador-personagem não nos diz o seu nome, porque diz que aqueles escritos serão apenas um desabafo.
Resenha Completa Aqui

Top 02 - A Terra Inteira e o Céu Infinito - Ruth Ozeki
Suicídio, bullying, depressão, prostituição, guerras... todas as principais monstruosidades humanas juntas, nos sendo apresentadas de forma leve, nos fazendo questionar a verdadeira dimensão dos nossos sofrimentos individuais!
Com colheradas caprichadas de ensinamentos budistas, somos testados e vemos alguns pedaços nossos caindo a nossa volta durante essa leitura!
A Terra Inteira e o Céu Infinito, é um livro diferente, envolvente que desde a primeira linha já te captura para dentro da história nos deixando com os olhos marejados e coração apertado.
Resenha Completa Aqui

Top 01 - O Mágico de Oz -  L. Frank Baum
O Mágico de Oz é uma alegoria que trata do populismo e sobre o novo momento financeiro dos Estados Unidos naquela época. É uma leitura profunda que mexe com nossa consciência política e nossos valores como cidadãos, mas não sinto-me com competência para falar sobre esse assunto, por isso, vou aprofundar-me nos sentimentos que foram despertados com essa leitura.
Resenha Completa Aqui


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Sentimentos Literários - Notas do Subsolo - Fiódor Dostoiévski

"Deixe-me sair, gente boa, para eu viver um pouco no mundo! Eu vivi sem viver. Minha vida foi gasta em vão; foi bebida num botequim na Sênnaia. Deixe-me sair, gente boa, para eu viver novamente no mundo!...”





Sempre tive curiosidade de conhecer as obras de Dostoiévski por todos os adjetivos que seus admiradores fazem questão de espalhar por aí. Pensei que começaria por “Crime e Castigo”, mas acabei optando por conhecer o autor através de sua obra “Notas do Subsolo” ou “Memórias do Subsolo”. 

Trata-se de uma novela. Um texto curto, bem estruturado e dividido em 2 partes. Na primeira parte, que é chamada de “O Subsolo”, mergulhamos destemidamente no universo de um homem das sombras, aquele que se recusa a aceitar toda a hipocrisia da sociedade. 
Admirador da humanidade, porém que abomina seu lado sombrio, o narrador-personagem não nos diz o seu nome, porque diz que aqueles escritos serão apenas um desabafo. Desta forma, esse narrador relata, sem nenhum pudor, seu lado mais obscuro. Aos 40 anos, morador de São Petersburgo, Rússia, ele se apresenta como um aposentado que possui uma doença no fígado. Considera-se um homem mau, mas depois conclui que não é nada, nem mau nem bom. Através de um monólogo irônico, a sensação causada por suas palavras fere nosso ego, sentimo-nos dissecados e uma vergonha gigantesca nos invade, porque ele tem coragem de expor todo aquele lado podre que todos nós lutamos tanto para dominar e preferimos fingir que não existe. 
A segunda parte do livro é chamada de "A propósito da neve molhada", onde o narrador-personagem nos apresenta duas situações que reafirmam todo o lado sombrio que foi capaz de nos revelar no primeiro momento da obra. A primeira, trata-se de seu desespero por ser aceito em um grupo de amigos de infância. Ele se convida para uma confraternização de despedida de um deles e sofre com o desprezo com o qual é tratado. Seu desespero é tamanho que o narrador chega a ser inconveniente, nos revelando seus pensamentos, sua angústia e seu delírio durante o ocorrido. Após isso, encontra Liza, uma prostituta onde ele se revela como um admirador do ser humano e sua capacidade de amar. Porém, seu sentimento de inferioridade é tão grande que logo decide usá-la para se sentir superior e rebela-se deixando em evidência toda a frustração perante a uma sociedade que não o valoriza e apenas o ignora. 
Terminamos a leitura envergonhados por percebermos que um dia nossa alma foi despida daquela forma. Nossos conflitos, questionamentos, o medo da humilhação, a busca pela superioridade e o reconhecimento da inferioridade do outro para que possamos nos sentir mais seguros diante da sociedade, são as principais sombras que o autor faz questão de atirar contra nosso ego.
Talvez você termine essa leitura com a sensação de que nunca mais verá a si mesmo e aos outros da mesma forma. Se terminar incomodado, perturbado e chocado com obscuridade do ser humano, saiba que conseguiu absorver a essência do livro. 




O livro é considerado o fundador do existencialismo, além de ter servido de fonte para os estudos de Freud e Nietzsche. Filosofia, poesia e repulsa se misturam e formam o coquetel perfeito para revelarem todos os monstros que habitam nossa humanidade. Publicado em 1864, apresenta-nos um fluxo de consciência intenso e perturbador e um anti-herói que mergulha profundamente em seu subconsciente e nos revela tanto sobre ele mesmo, quanto sobre nós! 




Quotes

"Agora vivo no meu canto, provocando a mim mesmo com a desculpa rancorosa e inútil de que o homem inteligente não pode seriamente se tornar nada, apenas o tolo o faz. Sim, senhores, o homem do século XIX que possui inteligência tem obrigação moral de ser uma pessoa sem caráter; já um homem com caráter, um homem de ação, é de preferência um ser limitado. "

"Quem vive além dos quarenta? Respondam-me sincera e honestamente. Pois vou lhes dizer quem vive: os tolos e os canalhas. Direi isso na cara de todos os anciãos, dos anciãos respeitáveis, perfumados e de cabelos brancos!"

"Explico-lhes: o deleite aqui derivava precisamente da consciência excessivamente clara de minha humilhação; de que você sente que já chegou ao derradeiro limite; que isso é detestável, mas também, que outra coisa é impossível; que você já não tem saída, já não pode mudar. Mesmo se ainda restasse tempo e fé para se transformar em algo diferente, provavelmente você mesmo não iria querer se transformar; e, se quisesse, ainda assim não faria nada, porque talvez não houvesse no que se transformar. Mas o principal e o fim derradeiro é que tudo isso transcorre de acordo com as leis normais e básicas da consciência amplificada e pela inércia derivada diretamente dessas leis e, consequentemente, nesse caso não só não é possível transformar-se, como simplesmente não se pode fazer nada. Por exemplo, resulta o seguinte em consequência da consciência amplificada: você está certo em ser um patife, como se fosse consolo para um patife se ele mesmo já percebe que é realmente um patife. Mas basta de... Ora, falei pelos cotovelos e o que expliquei? Como se explica o deleite nesse caso? Mas hei de explicar-me! Irei até o fim! Foi para isso que peguei a pena...
"chega, finalmente, à coisa em si, ao próprio ato de vingança. O infeliz camundongo, além da sujeira inicial, já conseguiu mergulhar em um monte de outras sujeiras na forma de perguntas e dúvidas; a uma única questão acrescentou tantas outras não respondidas que, independentemente de sua vontade, vai juntando-se ao seu redor uma gosma repugnante e fatal, uma lama fétida, formada por suas dúvidas, preocupações e, finalmente, de cusparadas que ele recebe dos homens de ação, postados solenemente em torno dele na qualidade de juízes e ditadores, e que, com suas possantes goelas, riem dele às gargalhadas. "

"“Perdão, senhores”, hão de lhes gritar, “é impossível rebelar-se: trata-se de dois e dois são quatro! A natureza não lhes pede licença, não se importa com seus desejos e nem se suas leis lhes agradam ou não. Os senhores devem aceitá-la tal como é e, consequentemente, todos os seus resultados também. Um muro, portanto, é mesmo um muro... etc. etc.” Ó meu Deus! Que tenho a ver com as leis da natureza e com a aritmética, se essas leis e dois e dois são quatro, por alguma razão, não me agradam? Evidentemente, não quebrarei esse muro com a testa, se realmente não tiver forças para isso, mas nem assim vou resignar-me somente porque encontrei um muro e não tive forças para rompê-lo."

"Por acaso um homem com consciência pode ter algum respeito próprio?"

"que eu disse foi: o homem se vinga porque acha que está fazendo justiça. Isso significa que ele encontrou o motivo original, o fundamento, ou seja: a justiça. Disso decorre que ele está tranquilo de todos os lados e consequentemente, efetua sua vingança tranquila e eficiente, pois está convencido de que executa uma ação honesta e justa. De minha parte, não vejo nisso nenhuma justiça, não encontro nenhuma virtude e, por conseguinte, se resolvo me vingar, é unicamente por maldade. A raiva poderia, é claro, suplantar tudo, todas as minhas dúvidas e poderia com pleno êxito servir de motivo original, precisamente porque ela não é o motivo. Mas que fazer se nem mesmo tenho raiva? (Eu comecei, há pouco, falando exatamente disso.) A minha maldade, novamente em consequência dessas malditas leis da consciência, está sujeita à decomposição química. "

"Mas tente abraçar com paixão e cegamente o seu sentimento, sem reflexão, sem buscar o motivo original, afastando a consciência pelo menos temporariamente; sinta ódio ou amor, nem que seja para não ficar sentado de braços cruzados. "
"Eu sou um tagarela, um tagarela inofensivo e enfadonho, como todos nós. Mas que se há de fazer se o único e evidente destino de todo homem inteligente é tagarelar, ou seja, dedicar-se propositalmente a conversas para boi dormir?"

"Eu, por exemplo, tenho um amigo... Mas vejam só! Ele é amigo dos senhores também; e de quem, de quem ele não é amigo?! Ao se preparar para realizar uma ação, esse senhor começará por lhes explicar, de maneira clara e pomposa, como precisamente ele deve agir para estar de acordo com as leis da razão e da verdade. Isto não é tudo: ele falará aos senhores com paixão e emoção sobre os interesses humanos normais e verdadeiros, criticará com ironia os idiotas míopes que não entendem nem suas próprias vantagens, nem o verdadeiro significado da virtude e, exatamente quinze minutos depois, sem que haja qualquer motivo repentino e exterior, mas precisamente por alguma coisa interna que é mais forte do que todos os seus interesses, ele aprontará uma das suas, fará claramente o inverso do que dissera pouco antes: agirá contra as leis da razão e contra os próprios interesses, ou seja, contra tudo... Quero preveni-los de que meu amigo é um personagem coletivo, por isso é um pouco difícil condenar só a ele. Mas é aí mesmo que eu quero chegar, senhores. Será que de fato não existe algo que seja mais caro a quase todos os homens do que suas melhores vantagens, ou (para não destruir a lógica) aquela mesma vantagem mais vantajosa (aquela que é sistematicamente omitida, de que falamos antes), que é mais importante e mais vantajosa do que todas as outras vantagens e que, para obtê-la, o homem está sempre pronto, se necessário, a afrontar qualquer lei, ou seja, ir contra a razão, a honra, o sossego, o bem-estar – numa palavra, contra todas essas coisas maravilhosas e úteis, apenas para alcançar essa vantagem mais vantajosa, a primeira, que para ele é mais cara do que tudo?"


"Mas o ser humano é tão apaixonado pelo sistema e pela conclusão abstrata, que é capaz de fazer-se de cego e surdo somente para justificar sua lógica. "
" A civilização desenvolve no homem apenas uma diversidade de sensações... e nada mais. E, graças ao desenvolvimento dessas sensações, é bem possível que o homem acabe por descobrir no derramamento de sangue um certo prazer. "
"Pelo menos se pode dizer que, se o homem não se tornou mais sanguinário com a civilização, tornou-se, com certeza, um sanguinário pior, mais hediondo. Antes ele via no derramamento de sangue um modo de fazer justiça e com a consciência tranquila massacrava aqueles que julgava merecê-lo; hoje, ainda que julguemos que derramar sangue seja uma torpeza, mesmo assim o praticamos, e ainda mais do que no passado. "
"mais: nesse tempo, dizem os senhores, a própria ciência vai ensinar ao homem (embora isso já seja um luxo, na minha opinião) que ele, na verdade, não possui nem vontade, nem caprichos, que, por sinal, nunca os teve, e que ele mesmo não passa de alguma coisa parecida com uma tecla de piano ou um pedal de órgão; e que, ainda por cima, existem também as leis da natureza, de modo que, não importa o que ele faça, isso não é feito por sua vontade, e sim por si mesmo, seguindo as leis da natureza. "

"Conseqüentemente, basta descobrir essas leis da natureza que o homem não terá mais de responder pelos seus atos, e viver, para ele, será extremamente fácil. Evidentemente, todas as ações humanas serão calculadas matematicamente, de acordo com essas leis, numa espécie de tábua de logaritmos, até 108.000, e serão inscritos nos calendários; ou, algo ainda melhor: surgirão algumas publicações bem-intencionadas, do tipo dos atuais dicionários enciclopédicos, em que tudo estará tão bem calculado e indicado, que no mundo não haverá mais nem ações nem aventuras."

"então, senhores, que tal dar um pontapé em todo esse bom senso e mandar esses logaritmos para o diabo para que possamos novamente viver segundo a nossa vontade idiota?"

" O que o homem precisa é somente de uma vontade independente, custe ela o que custar e não importa aonde possa conduzir. Bom, essa vontade, o diabo conhece bem..."

"Um momento, senhores, eu mesmo queria começar dessa maneira. Confesso que até me assustei. Um instante atrás por pouco eu não quis gritar que a vontade depende sabe o diabo de que, coisa que, talvez, devamos agradecer a Deus, mas lembrei-me da ciência e... me calei. "

"Nossos desejos, na sua maioria, são equivocados devido a uma avaliação errada das nossas vantagens. Se às vezes queremos coisas absurdas, isso se deve ao fato de que nessa coisa absurda nós vemos, por burrice nossa, um caminho mais curto para obtermos uma vantagem antecipadamente presumida. "

"Perdoem-me por ter filosofado dessa maneira, mas foram quarenta anos de subsolo! Permitam-me fantasiar um pouco. Vejam os senhores: a razão é uma coisa boa, sem dúvida, mas razão é apenas razão e satisfaz apenas a capacidade racional do homem; já a vontade, esta é a manifestação da vida como um todo, ou melhor, de toda a vida humana, aí incluindo-se a razão e todas as formas de se coçar. E, mesmo que a nossa vida pareça às vezes bem ruinzinha do ponto de vista acima, ela é vida, apesar de tudo, e não apenas a extração de uma raiz quadrada."

"vejam até o que acontece volta e meia: constantemente aparecem na vida pessoas tão corretas e sensatas, tão sábias e amantes do gênero humano que assumem como seu objetivo de vida comportar-se da maneira mais correta e sensata possível para, por assim dizer, ser uma luz para os demais, provando para eles que é possível de fato viver neste mundo de maneira correta e sensata"
"O homem gosta de criar e de abrir caminhos, isto é indiscutível. Mas por que ele também ama com paixão a destruição e o caos?"

"Os trabalhadores, ao término do trabalho, pelo menos recebem seu dinheiro e podem ir para o botequim e depois podem acabar na delegacia – e têm, assim, ocupação para a semana. Mas o homem para onde irá? Pelo menos, sempre se nota que ele fica um pouco sem jeito quando consegue atingir algum desses objetivos. Ele ama o processo de conseguir, mas atingir mesmo, nem tanto, e isso, claro está, é terrivelmente engraçado. "

"Quem sabe ele ame igualmente o sofrimento? Quem sabe o sofrimento é para ele tão vantajoso quanto o bem-estar? O homem, às vezes, ama o sofrimento de maneira terrível, apaixonada; isso é um fato. Para isso não há necessidade de consultar a história universal. Perguntem a si mesmos, se é que os senhores são homens e viveram nem que seja um pouco. Quanto à minha opinião pessoal, penso que amar apenas o bem-estar é, de certo modo, até indecente. Seja isso bom ou não, o fato é que, às vezes, quebrar alguma coisa é também muito agradável. "

"Vejam os senhores: se em vez de um palácio houver um galinheiro, e se começar a chover, talvez eu suba no galinheiro para não me molhar, mas nem assim vou achar que o galinheiro é um palácio, só por gratidão por ele ter-me protegido da chuva. Os senhores estão rindo e dizendo que num caso como esse tanto faz um palácio como um galinheiro. Sim, respondo eu, se o único objetivo de viver fosse não se molhar."

"Entre as recordações de cada pessoa, há coisas que ela não conta para qualquer um, somente para os amigos. Há também aquelas que ela não conta nem para os amigos, somente para si mesma, e isso secretamente. Mas, finalmente, há também aquelas que o indivíduo tem medo de revelar até para si mesmo, e um homem respeitável tem tais coisas acumuladas em grande quantidade. E pode ser até mesmo assim: quanto mais respeitável ele é, mais coisas desse tipo ele tem acumuladas."
" Além disso, escrevendo, talvez eu sinta de fato alívio."

"Tanto o autor das Notas como elas próprias são, evidentemente, fictícios. Entretanto, pessoas como o autor destas Notas não só podem como devem existir na nossa sociedade, se levarmos em conta as circunstâncias em que ela de modo geral se formou. Meu propósito foi trazer perante o público, com mais destaque que o habitual, um dos personagens típicos do nosso passado não remoto. Ele faz parte da geração que está vivendo seus últimos dias. Na primeira parte, denominada “Subsolo”, esse personagem faz sua própria apresentação, declara seus pontos de vista e procura explicar os motivos pelos quais ele surgiu e teria de surgir no nosso meio. Na segunda parte vêm as “Notas” propriamente ditas desse personagem a respeito de alguns acontecimentos de sua vida.
Fiódor Dostoiévski"

"Dostoiévski aqui aponta para a ligação do personagem central de Notas do subsolo com a extensa galeria de “homens supérfluos” de que foi pródiga a literatura russa da primeira metade do século XIX. Em uma definição muito breve, seriam as pessoas cujo talento e inteligência não tinham aplicação naquela sociedade e, por falta de uma realização pessoal, tornavam-se amargas e destrutivas. (N.T.)"

 “Eu sou único e eles são todos”

"Nossos cretinos o aplaudiram por isso, mas eu me atraquei com ele, e não foi por pena das moças e de seus pais, mas simplesmente porque um inseto como aquele recebia tantos aplausos. "
" E é possível viver se há amor, mesmo sem felicidade. Mesmo com amargura a vida é boa. É bom viver neste mundo, não importa como se viva. "

"Além disso, o homem não pode nunca ser um exemplo para a mulher. São duas coisas diferentes; mesmo que eu me suje, me emporcalhe aqui, não sou escravo de ninguém; venho, vou embora e já não estou mais aqui. Com uma sacudida, já sou outro homem. Já você, de saída é uma escrava. É isso mesmo, uma escrava! Você entrega tudo, toda a sua liberdade. E mais tarde, vai querer romper essas correntes e já não será possível: elas vão prendê-la cada vez mais firmemente. "

"... E depois, como você pode saber? Talvez eu seja tão infeliz quanto você, talvez eu me atire na sujeira de propósito, por desespero. Alguns não bebem por desgosto? Eu estou aqui por desgosto. Diga-me uma coisa: que existe de bom aqui, se nós dois estivemos juntos e um não disse nem uma palavra ao outro, e você, depois, ficou me examinando como uma selvagem, e eu fiz o mesmo com você? Por acaso é assim que se ama? Será que é dessa maneira que as pessoas devem se relacionar? É uma pouca-vergonha, é o que é!"

"depois, a trapaça convive bem com o sentimento"

"Hum... É, pode ser. Entretanto, veja, Liza: as pessoas gostam de levar em conta somente as amarguras. Não levam em conta sua felicidade. Se raciocinassem corretamente, veriam que para todos está reservada uma porção de tudo. E se tudo vai bem na família, Deus abençoa, o marido é bom, ama você, cuida de você, numa família assim é bom viver! Até mesmo se, às vezes, passam por maus momentos, ainda assim é bom. Quem não tem maus momentos? Se você se casar, vai saber por si mesma. Tomemos nem que sejam os primeiros tempos de casada com aquele que você ama: por vezes é tão grande a felicidade! Isso acontece a três por dois. Nos primeiros tempos, até as brigas com o marido terminam bem. Existem algumas mulheres que quanto mais amam seus maridos, mais arrumam brigas com eles. É verdade! Conheci uma assim: “Pois é, eu te amo muito, e é por amor que te faço sofrer, para que você saiba que te amo”. Você sabe que por amor se pode fazer alguém sofrer de propósito? As mulheres são as que mais fazem isso. E ainda ficam pensando: “Em compensação, depois vou amá-lo tanto, vou dar-lhe tanto carinho, que não faz mal torturá-lo um pouco agora”. E em casa todos ficam felizes com vocês, há conforto, alegria, paz e honestidade... Mas há algumas que são ciumentas. Se o marido sai (conheci uma assim), ela não agüenta esperar e no meio da noite corre secretamente para a rua para ver se ele está em tal lugar, em tal casa, com uma certa mulher. Isso já não é uma coisa boa. Ela mesma sabe que não é bom, e seu coração quase pára, ela se castiga, mas ela o ama; faz tudo por amor. E como é bom fazer as pazes depois de uma briga, pedir perdão a ele ou perdoá-lo! Como é bom para ambos, de repente fica tão bom, como se eles tivessem se conhecido novamente, tivessem casado novamente, e o amor deles tivesse começado de novo. E ninguém, ninguém precisa saber o que se passa entre marido e mulher, se há amor entre eles. Não importa qual a briga entre eles – nem as mães deles devem ser chamadas como juízas, nem eles devem falar mal um do outro. Eles próprios devem ser os juízes. O amor é um mistério de Deus e deve ser protegido dos olhares alheios, não importa o que aconteça. Ele se torna melhor, santo, assim. Um respeita mais o outro, e muita coisa é baseada no respeito. E se uma vez já existiu amor, se o casamento foi por amor, por que o amor tem de terminar? Será possível que não haja um meio de mantê-lo? "

"Pois bem, se você tem sorte de encontrar um marido bom e honesto, por que o amor vai acabar? O amor dos primeiros tempos do casamento pode passar, é verdade, mas depois surgirá um amor ainda melhor. Aí então ficarão unidos de alma, todos os assuntos serão resolvidos a dois, não haverá segredos de um para o outro. E, quando vierem os filhos, até os períodos mais difíceis vão parecer felizes; basta amar e ter coragem. Em tal situação, até o trabalho é alegre, e se alguma vez for preciso recusar o pão para dá-lo aos filhos, até isso é motivo de alegria. Pois eles mais tarde vão amá-lo por isso; você estará poupando para si mesmo. Os filhos crescem e você sente que é um exemplo para eles, que é seu suporte, que quando você morrer eles vão levar seus sentimentos e idéias, que eles receberam de vocês, por toda a sua vida, e adotarão sua imagem e sua semelhança. Portanto, isso é um dever muito sério. Assim sendo, como o pai e a mãe não hão de se unir mais estreitamente? "

"Não será isso a felicidade quando os três, o marido, a esposa e a criança estão juntos? Por momentos como esse pode-se perdoar muita coisa. Não, Liza, é preciso que cada um primeiro aprenda a viver, para depois acusar os outros!"

"Não confie tanto na juventude. Aqui tudo passa rápido como um galope."

"Deixe-me sair, gente boa, para eu viver um pouco no mundo! Eu vivi sem viver. Minha vida foi gasta em vão; foi bebida num botequim na Sênnaia. Deixe-me sair, gente boa, para eu viver novamente no mundo!...”

"sórdido, o mais mesquinho, o mais tolo, o mais invejoso de todos os vermes da terra, que não são nem um pouco melhores do que eu, mas que, sabe-se lá por que, nunca ficam constrangidos"
"Um romance precisa de um herói, e aqui foram reunidos intencionalmente todos os traços para um anti-herói, e, o que é mais importante, tudo isso vai produzir uma impressão muito desagradável, porque nós todos nos desacostumamos da vida, uns mais, outros menos, e nos desacostumamos ao ponto de sentirmos às vezes uma certa repugnância pela verdadeira “vida viva”, e por isso não podemos suportar que nos façam lembrar dela. Pois chegamos ao ponto de quase achar que a verdadeira “vida viva” é um trabalho, quase um emprego, e todos nós no íntimo pensamos que nos livros é melhor. "

"E por que às vezes ficamos irrequietos, inventamos caprichos? E o que pedimos? Nós mesmos não sabemos. Nós mesmos nos sentiremos pior se nossos pedidos delirantes forem atendidos. Pois bem, façam uma experiência, deem-nos, por exemplo, mais independência, desamarrem as mãos de qualquer um de nós, ampliem nossa esfera de ação, relaxem a tutela e nós... eu lhes asseguro: nós imediatamente pediremos a volta da tutela. Sei que os senhores talvez fiquem bravos comigo, comecem a gritar e a bater com os pés: “Fale somente sobre si mesmo e sobre suas misérias no subsolo, mas não ouse dizer todos nós”. Permitam-me, senhores, eu não estou me justificando quando digo todos. E no que me diz respeito, eu apenas levei às últimas consequências na minha vida aquilo que os senhores não tiveram coragem de levar nem à metade, e ainda por cima acharam que sua covardia era bom senso, consolando-se e enganando a si próprios com isso. De modo que talvez eu esteja mais “vivo” que os senhores. Olhem com mais atenção! Nós nem sabemos onde vive essa coisa viva, o que ela é, como chamá-la! Deixem-nos sós, sem livros, e imediatamente ficaremos confusos, perdidos – não saberemos a quem nos unir, o que devemos apoiar; o que amar e o que odiar; o que respeitar e o que desprezar. Até mesmo nos é difícil ser gente – gente com seu próprio e verdadeiro corpo e sangue; sentimos vergonha disso, achamos que é um demérito e nos esforçamos para ser uma espécie inexistente de homens em geral. Somos natimortos, e há muito tempo nascemos não de pais vivos, e isso nos agrada cada vez mais."

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Adorável Caos



Foi esse canto de paz que você reservou para mim no seu coração? Mas, eu não sei ser paz, eu sou desordem, desassossego, inquietação, eu sou seu caos!.
Sou uma destruidora de regras, de equilíbrio!
Pensou mesmo que não bagunçaria seu guarda-roupa, metodicamente organizado? Pensou que seus lenços xadrez não desapareciam um a um, e que eu não teria preguiça de acordar para preparar seu café da manhã?
É claro, que eu seria aquela que te ensinaria a dormir de madrugada e acordar ao meio dia. Claro, que eu seria melhor em guardar seus cartões românticos a guardar os recibos de contas pagas. 
Obvio que eu te daria filhos questionadores e desafiadores.
Amor, eu não sei ser boa em tudo, mas sei ser boa namorada!
Eu sei que vou usar seus moletons mesmo tendo os meus. E que entre um jantar chique de sexta-feira à noite e um almoço caprichado de domingo, nós podemos passar o fim de semana cinzento intercalando entre miojo e pipoca. 
Durante as férias, eu estarei disposta para ir para a praia, mas também topo passar os dias revezando entre os filminhos da TV a cabo e os jogos de computador matando zumbis com você.
Sou eu quem te mostro os desenhos nas nuvens e que faço você sorrir quando a vida está séria demais. 
Nós dividimos os melhores abraços e os beijos mais doces!
Olha, amor! Eu não sei muito, mas eu sei gritar quando ninguém está ouvindo e sei te dar amor quando você mais precisa! Sei fazer das tuas lutas as minhas, e dos seus sonhos meus também. 
Eu sei fazer das suas desavenças minhas maiores guerras e sei te dar carinho como ninguém.
Eu sou tropeça, vivo cambaleando por aí e sinto muito se te fiz acreditar que eu seria sua paz. Acho que você logo percebeu o quanto eu sou descabida e desajeitada. Mas, olha, eu também sou destemida, sou otimista e sonhadora, mesmo quando o mundo inteiro me chama de boba! 
Eu sou um desatino, admito! Sei que sou estabanada e vivo me complicando com minhas promessas! Sei que poderíamos viver com mais paz, mas eu sou seu caos, eu admito! 
Mas mesmo com todo o meu desatino, eu sei ser adorável! Você sabe que eu sei!
Por isso, amor! Me deixa ser suas asas! Sou eu quem te tira da Terra e te leva de encontro com a lua.
Não precisa reservar esse canto de paz, eu não caibo aí! Eu sou sua, meu bem! Seu Adorável Caos!











Sentimentos Literários - O Mágico de Oz (L. Frank Baum)



Dorothy vivia no Kansas em sua vida era cinza demais! Um dia, um ciclone carrega sua casa e a menina vai parar na Terra de Oz no País de Munchkins, onde é recebida com muita alegria, pois sua casa caiu em cima da Bruxa Má do Leste, uma bruxa que mantinha aquele povo escravizado. 
Mas Dorothy quer encontrar uma forma de voltar para o Kansas e ela precisa ir para a Cidade das Esmeraldas encontrar O Mágico de Oz, para pedir ajuda. Já que trata-se de um mágico muito poderoso, acredita-se que apenas ele poderá levar a garota para o seu lar. 
Enquanto segue a estrada de tijolos amarelos para chegar na Cidade das Esmeraldas, Dorothy conhece alguns amigos que decidem fazer a viagem com ela e assim, pedirem para que o Mágico realize seus desejos também.
O primeiro que ela encontra é o Espantalho e seu maior desejo é ter um cérebro. Depois, ela conhece o Lenhador de Lata e seu maior sonho é ter um coração. O Leão que eles encontram, quer ter coragem, porque considera-se um covarde. 
Durante a viagem, eles ficam muito amigos e encontram diversos obstáculos. Juntos conseguem chegar até a Cidade das Esmeraldas e precisam colocar um óculos com lentes verdes para poderem entrar. 
Quando encontram o Mágico, ele diz que só realizará seus desejos se eles matarem a Bruxa Má do Oeste e mais uma vez os amigos enfrentam diversas aventuras para conseguirem ter seus desejos realizados!
O livro de L. Frank Baum, foi publicado em agosto de 1900 e apesar de o autor dizer na introdução que “a história do O Mágico de Oz foi escrita apenas para o prazer das crianças de hoje”, conseguimos enxergar significados que ultrapassam o entretenimento infantil. 
A história tem algumas passagens inadequadas para a educação infantil de hoje. Em alguns momentos, parece ser um pouco violento, como a bruxa que com seu feitiço fez o machado do Lenhador de lata decepar todas as partes do seu corpo, assassinatos de bruxas e cabeças sendo separadas do corpo... e ainda, encontramos frases que parecem estar falando de uma coisa, quando na realidade, entendemos de outra maneira!



O Mágico de Oz é uma alegoria que trata do populismo e sobre o novo momento financeiro dos Estados Unidos naquela época. É uma leitura profunda que mexe com nossa consciência política e nossos valores como cidadãos, mas não sinto-me com competência para falar sobre esse assunto, por isso, vou aprofundar-me nos sentimentos que foram despertados com essa leitura. 
Os tons de cinza descritos sobre o Kansas, demonstram como a vida de Dorothy era pacata e monótona, e as cores descritas no País de Oz, nos mostra que para nossa vida ser colorida, às vezes, precisamos mudar. Precisamos enfrentar os obstáculos que aparecem em nossas vidas, sem nos sentirmos vítimas dela. A vida vai nos presentear com amigos que nos ajudarão em nossa jornada! 
Seremos sempre reféns das indecisões e da guerra entre razão e emoção, mas não devemos separar nossa mente do nosso corpo, precisamos nos enxergar como um todo, para assim, encontrarmos o equilíbrio e forças para continuarmos nossa caminhada! 
A coragem não é a ausência do medo, mas sua superação. E talvez, tudo o que passamos uma vida inteira buscando, nós já possuímos.
Em certos momentos, seremos enganados e as pessoas usarão recursos para nos manter alienados! E quando entendemos o poder que temos, nada pode nos limitar. Poderemos ir para qualquer lugar e sermos quem quisermos, porque nós somos capazes de muito mais do que pensamos. É preciso saber a maneira certa de usarmos as ferramentas que temos, cérebro, coração e coragem podem ser amigos e precisam estar em sintonia.  
Pessoas entrarão e sairão de nossas vidas, mas elas sempre deixarão pedaços delas dentro da gente! Boas vindas e despedidas fazem parte dessa estrada de tijolos amarelos que chamamos de vida! Nem sempre ela será linda e perfeita, terá algumas imperfeições que poderão nos derrubar se não soubermos usar a razão. Os obstáculos podem interromper essa caminhada se não tivermos coragem de arriscar e se não pudermos ajudar os que estão a nossa volta. 
Quando eu era criança, encenei o espetáculo “O Mágico de Oz” e minha maior frustração era que eu não poderia ser o “Lenhador de Lata”. As pessoas me perguntavam por que eu não estava triste por não ser a Dorothy, e eu não sabia responder.
Hoje, eu só tenho gratidão por poder mergulhar nessa aventura que é muito mais do que uma história de criança. E posso responder por que eu gostaria de ser o “Lenhador de Lata”. Porque por mais que a vida seja cinza ou a estrada seja desregulada, eu quero me manter sensível durante o percurso. Quero enxergar as delicadezas do mundo e ver a poesia que ele produz. Quero me manter fiel aos meus sentimentos e respeitar o mundo a minha volta! Eu quero ter um coração para me guiar e para não permitir que a vida me endureça nem em enferruje. 



Quotes


“Mas a Terra de Oz nunca foi civilizada, porque vivemos separados do resto do mundo. E é por isso que ainda temos bruxas, feiticeiros e magos.” (p.26)

“...pois se ver no meio de tanta gente estranha a fazia sentir-se muito só.” (p.28)

“Dorothy não sabia o que fazer, porque todo mundo parecia achar que era mesmo uma feiticeira, enquanto ela sabia perfeitamente que era só uma garota comum que, por acaso, um ciclone havia carregado para uma terra estranha.” (p.35)

“— Por mais que as nossas casas sejam tristes e cinzentas, nós, as pessoas de carne e osso, preferimos viver nelas do que em qualquer outro lugar, mesmo o mais lindo do mundo. Não existe lugar igual à casa da gente.” (p.43)

“Um bom cérebro é a única coisa que vale a pena ter nesse mundo, tanto para os homens quanto para os corvos.” (p.46)

“Deve ser meio incômodo ser feito de carne — disse o Espantalho, pensativo. — Porque a pessoa precisa dormir, comer e beber. Por outro lado, tem um cérebro, e poder pensar direito bem que vale todo o trabalho.” (p.49)

“— Mas no fim das contas não é o cérebro a melhor coisa do mundo. 
— Você tem miolos? — perguntou o Espantalho.
— Não, minha cabeça é vazia — respondeu o Lenhador de Lata. — Mas antigamente eu tinha um cérebro, e também um coração. Como experimentei os dois, prefiro ter um coração.” (p.54)

“— vou pedir um cérebro em vez de um coração. Porque um burro, mesmo se tivesse um coração, não ia saber o que fazer com ele.
— E eu vou ficar com o coração — respondeu o Lenhador de Lata. — Porque um cérebro não faz ninguém, feliz, e a felicidade é a melhor coisa do mundo.” (p.58)

“— Sempre achei que eu era um animal grande e assustador. Mesmo assim, coisinhas tão miúdas como essas flores quase acabaram comigo, e bichinhos pequeninos como os ratos salvaram a minha vida. Como a vida é estranha!” (p.96)

“— Sou Oz, Grande e Terrível.
...
— Sou Dorothy, Pequena e Humilde. (p.112)

“— Sou um lenhador, e feito de lata. Por isso eu não tenho coração, e não sou capaz de amar. Peço que me dê um coração para eu poder ser como os outros homens.” (p.119)

“Ainda posso transformar essa menina em escrava, porque ela não sabe como usar o seu poder.” (p.134)

“—Se eu não consigo prender você aos arreios, pelo menos posso deixá-lo morrer de fome. Você não vai ganhar nada para comer até aceitar fazer o que eu quero.” (p.135)

“Estou em toda parte — respondeu a voz. — Mas sou invisível aos olhos dos mortais. Agora vou me instalar no meu trono, para que vocês possam conversar comigo.” (p.160)

“A experiência é a única coisa que traz conhecimento, e quanto mais tempo você passa na terra, mais experiência você acumula.” (p.169)

“— Ora, acho um engano você querer um coração. Ele só traz infelicidade para a maioria das pessoas. Se você soubesse como tem sorte por não possuir um coração...
— Deve ser questão de opinião. — disse o Lenhador de Lata. — Por mim, eu aceitaria suportar toda essa infelicidade sem dar um pio, se você me desse um coração.” (p.170)

“Não está vendo que são estrangeiros, e precisam ser tratados com respeito? 
—Bom, pois era respeito, só que do meu jeito!” (p.202)

“Não adianta lutar contra pessoas com cabeças que atacam assim, pois ninguém pode enfrentá-las.” (p.212)